quinta-feira, 30 de abril de 2009

Bicho de Sete Cabeças


Deu vontade de botar aqui um pequeno trecho do livro que to lendo sobre Psicologia Analítica do Jung. Acho que poucos vão ler, mas besteira :D

"Eu não concordaria, pois enquanto esse homem puder explicar-se e eu sentir que podemos manter um contacto, afirmarei que ele não está louco. Estar louco é uma concepção extremamente relativa. Em nossa sociedade quando, por exemplo, um negro se porta de determinada maneira, por exemplo, é comum dizer-se: “Ora, ele não passa de um negro”, mas se um branco agir da mesma forma, é bem possível dizerem que ele é louco, pois um branco não pode agir daquela forma. Estar louco é um conceito social. Usamos restrições e convenções sociais a fim de reconhecermos desequilíbrios mentais. Pode-se dizer que um homem é diferente, comporta-se de maneira fora do comum, tem idéias engraçadas, e se por acaso ele vivesse numa cidadezinha da França ou da Suíça, diriam: “É um fulano original, um dos habitantes mais originais desse lugar”. Mas se trouxermos o tal homem para a Rua Harley, ele será considerado doido varrido. Se determinado indivíduo é pintor, todo mundo tende a considerá-lo um homem cheio de originalidades, mas coloque-se o mesmo homem como caixa de banco e as coisas começarão a acontecer... Dirão que o homem é um louco consumado. Essas opiniões não passam, entretanto, de considerações sociais. Vejamos o exemplo dos hospícios: não é o aumento de insanidade que faz nossos asilos ficarem apinhados; é o fato de não podermos mais suportar as pessoas anormais, isto sim. Então parece haver muito mais loucos do que antes. Lembro-me, em minha juventude, de pessoas que mais eu reconheceria como esquizofrênicas, as quais nos referíamos da seguinte maneira: “Tio fulano é um homem extremamente original”. Na minha cidade natal existem vários imbecis, mas ninguém era capaz de dizer: “Ele é tão bonzinho...” Da mesma forma chamam-se alguns tipos de idiotas de “cretinos”, derivado da expressão “Il est bom chrétien” (ele é bom cristão). Seria impossível dizer qualquer coisa sobre eles, mas pelo menos eram bons cristãos."

[Fundamentos de Psicologia Analítica - Jung]


Vale ressaltar que isso não vale só para a loucura, serve também para outros estereótipos que nós teimamos em botar em tudo que é gente.

Quero saber é quem não tem algum traço meio estranho.
Quem aguentaria viver numa sociedade com todos iguais e aparentemente normais.
Ou mesmo viver sem as excentricidades necessárias pra não deixar tudo tão entediante.

É isso.


adeus, manos.


o/

2 comentários:

  1. Bem.. se pensar bem, tudo é relativo. A noção de certo e errado, de normalidade, de beleza, de loucura, de ignorância..

    Tudo depende do tal referencial da sociedade.
    E, deusmelivre, apontar dedos, so Deus sabe todos os meus defeitos..

    Bem.. a gente releva quando pode, né? E quando a vida dá aquele zoom em algum dos defeitos que nós colecionamos como alguém que coleciona selos, a hipocrisia tende a ir embora, ao menos pra isso achamos uma função, menos mau.


    Beijomeliga, Bibi, seremos loucas mas seremos felizes.

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  2. "Nos chamam de loucos, num mundo em que os certos fazem bombas."
    -Bob Marley-

    Gostei muito desse texto...
    Tem um texto que tava lendo hoje de antropologia, que falava que quandos os portugueses chegaram ao brasil, falaram que os índios era um povo sem lei, sem rei e sem Deus. Mas os índios tinham lei, que era os proprios costumes deles; na verdade, todos eram reis, ja que todos eram iguais e o Deus deles era apenas diferente do Deus dos europeus... Então, tudo é muito relativo, depende das suas proprias verdades e do que colocam para a gente... Infelizmente sempre foi assim... =\
    Beijoo Linizonaaa!! ;))

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